Por NATAL LEITE CARVALHO
Nessa manhã preguiçosa de segunda-feira, enquanto faço a análise dos resultados das urnas sob a perspectiva das forças políticas locais, vem-me à ardente memória um poema do genial poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, musicalizado tantas vezes por vozes brasileiras desde a longínqua década de 40: “José”
Por meio de suas talentosas letras, o autor Ilustra em plenitude “o sentimento de solidão e abandono do indivíduo na cidade grande, a sua falta de esperança e a sensação de que está perdido na vida, sem saber que caminho tomar”.
Consumido por toda essa desesperança está agora o ex-prefeito Juran Carvalho.
A votação insignificante no colégio eleitoral local para deputado federal demonstrou em exatidão o tamanho da sua estatura política atual, e com perspectiva de diminuição. A não reeleição do filho para a Assembleia Legislativa, somada ao fracasso estrondoso do ainda Senador Weverton Rocha nas urnas, seu padrinho político, fazem do ex-prefeito um solitário cabo eleitoral de si mesmo, já que seu minguado grupo político está em frangalhos e em sério risco de extinção.
Sem a prefeitura local, sem mandato na Assembleia Legislativa, adversário político do governador Carlos Brandão e dos senadores Flavio Dino e Eliziane Gama, além de sonoramente rejeitado pelo povo que o acolheu em muitas eleições, resta a Juran apenas a lúgubre solidão.
Essa, portanto, a indisfarçável realidade do Ex-prefeito Juran nessa manhã, que, no silêncio dessas horas mortas de ressaca eleitoral, recolhe-se em proveitosa reflexão, tal qual o fragmento do poema que deixo logo abaixo.
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
Natal Leite de Carvalho, é analista judiciário do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná